Uma proposta nutricional para a síndrome de Down - FIBRAS: Nutrientes frescos, frutas e legumes.
- Gisele Fontes e Sabrina Araújo
- 4 de jun. de 2019
- 7 min de leitura

A terapeuta Gabi Giacomin disponibilizou a segunda parte da série de 5 posts sobre sua proposta nutricional para a síndrome de Down e o tema é "Fibras". Seguimos com a tradução da introdução feita nas redes sociais e a matéria e, o link para a postagem original.
Bem vindo a segunda parte desta série de 5 publicações sobre 'Uma proposta nutricional para a síndrome de Down'. Antes de falar sobre a metilação e o microbioma, não posso deixar de enfatizar a importância de fornecer uma dieta rica em fibras para seu filho.
Quando uso a palavra "fibra" refiro-me a frutas frescas, vegetais, feijões, nozes, grãos e sementes. Uma pesquisa da Polônia (2015), relata que uma deficiência de nutrientes está associada a “escolhas inadequadas de alimentos”, e que uma “intervenção precoce na dieta feita pelos pais” pode atrasar ou diminuir condições associadas a T21 e melhorar a sua qualidade de vida (1). Muitas crianças não gostam de comer legumes, por isso, cabe a vocês como pais, se certificarem de que esses alimentos estejam presentes em sua dieta. As bactérias benéficas localizadas no intestino prosperam com o consumo de frutas e vegetais crus e, sem essa fonte de alimento, outras espécies patogênicas podem facilmente sobrecarregar o intestino. Depois de analisar alguns exames de fezes de crianças, posso observar o impacto de uma dieta rica em fibras nos seus resultados e posso observar o impacto no intestino de uma criança que não come frutas e vegetais crus. Eu gosto de descrever o intestino como um ecossistema que precisa de muita oxigenação de frutas e vegetais crus. Sempre recomendo aos pacientes que coloquem uma porção de comida crua no processador de alimentos logo pela manhã: alface, pepino, cenoura, aipo, alho-poró, cebolinha, etc e processá-los até que eles sejam triturados. Coloque isso em um recipiente de vidro na geladeira e adicione 1-2 colheres de sopa às refeições do seu filho 3-4 vezes ao dia, todos os dias. Tente variar os alimentos crus também. A exceção a essa rotina é se uma criança tiver cólon irritável ou quantidades elevadas de inflamação no intestino; nesse caso, os vegetais precisam ser consumidos cozidos até que a inflamação seja resolvida. Já é de nosso conhecimento que as crianças com T21 são propensas a má digestão, a um intestino permeável, alergias e constipação. Isso significa que temos que ser hipervigilantes quando se trata de fibra. Aproveite esta breve explicação sobre os benefícios da fibra pois estou ansiosa para apresentar os alimentos de metilação na próxima semana.
UMA DIETA RICA EM FIBRAS PARA A TRISOMIA 21
Na Trissomia 21 (T21), níveis elevados de estresse oxidativo têm o efeito de reduzir a produção de energia mitocondrial, o que resulta em processos digestivos lentos (1, 2, 3). Essa é uma resposta adaptativa do corpo para preservar funções celulares essenciais (2,4).
Nas quantidades certas, antioxidantes e polifenóis de uma dieta saudável associadas a suplementos, melhoram a bioquímica de uma pessoa com T21, reduzindo o estresse oxidativo, melhorando a função mitocondrial e, como conseqüência disso, melhorando a digestão (5). O suplemento Nutrivene Daily passou por dois testes clínicos que mostraram a redução do estresse oxidativo em pessoas com T21 (6,7). A adição de polifenóis como a Curcumina, Resveratrol e EGCg ao protocolo favorece a manutenção de mitocôndrias fortes e saudáveis (8,9). Portanto, um benefício da Intervenção Nutricional Direcionada (TNI) é restaurar os processos digestivos, corrigindo os fatores subjacentes do estresse oxidativo e da inflamação. Além disso, os pais de crianças com T21 precisam estar cientes de que o hipotireoidismo está associado à redução do ácido estomacal, redução do peristaltismo (movimento de alimentos pelo cólon) e constipação (19). A metilação adequada também é essencial para uma função digestiva saudável. Metilação pobre pode resultar em problemas digestivos, como sensibilidades alimentares, inflamação e intestino permeável. A metilação tem um impacto direto nas mitocôndrias, o que reduz o fluxo sanguíneo para o estômago e para os órgãos digestivos que, quando comprometidos, resultatam em má absorção e baixo ácido estomacal (20).
Fibra
A fibra é encontrada nas paredes celulares de frutas e legumes, feijão, nozes, grãos e sementes. Juntamente com a ingestão adequada de líquidos, a fibra move os alimentos rapidamente através do trato digestivo, otimizando uma função normal. As fibras retiram fluídos do corpo para adicionar volume às fezes. Ao aumentar o consumo de fibras em sua dieta, você precisa fazê-lo lenta e gradualmente. A fibra melhora a saúde do trato digestivo, alterando o equilíbrio das bactérias de um meio biótico para saudável, o que muitas vezes é a raiz dos problemas digestivos e de doenças (15). As dietas de caçadores-coletores eram ricas em fibras em comparação com a dieta ocidental padrão hoje. Além disso, eles experimentaram níveis significativamente mais baixos de colesterol e glicose e menores taxas de doenças, como obesidade e diabetes (11). A Constipação crônica é comum em crianças e pesquisas mostram que o sucesso do tratamento é conseguido usando mudanças no estilo de vida, como uma dieta rica em fibra, e não apenas com medicação (12). Crianças que comem dietas ricas em fibras, incluindo frutas e vegetais têm melhor evacuação do que aqueles que não consomem esses alimentos (13):
1) A fibra aumenta o volume das fezes e acelera o trânsito de alimentos pelo cólon; 2) a fibra é fermentada pelas bactérias intestinais para produzir ácidos graxos de cadeia curta (SCFA's) (butirato, propionato, acetato) que aumentam a retenção de água e aceleram o movimento do alimento através do cólon; 3) SCFA diminui o pH do cólon aumentando o movimento dos alimentos através desse órgão; 4) A fibra contém água.
Todas esses elementos melhoram a consistência e a quantidade de fezes produzidas (12).
A disbiose, um desequilíbrio nas populações bacterianas do intestino, foi encontrada em crianças com constipação, especialmente Clostridia e Enterobacteria, que raramente são encontradas em crianças saudáveis (12). Os probióticos que tratam da constipação aumentam os níveis de bactérias benéficas como lactobacilos e bifidobactérias que produzem ácido láctico, acético e outros ácidos diminuindo o pH do cólon e melhorando o tempo de trânsito. Os probióticos também são anti-inflamatórios e imunológicos, que podem melhorar a constipação. No entanto, uma dieta rica em polifenóis ricos em antioxidantes tem o mesmo efeito. Alergias alimentares ao leite da vaca estão associadas à constipação, e estudos mostram que os sintomas se resolvem após a eliminação do leite de vaca (14).
Os seguintes alimentos são listados como algumas das melhores fontes de fibra dietética: todos os feijões, legumes ou leguminosas, batata doce, maçã, pêra, morango, kiwi, ameixa, abacate, chia e sementes de linhaça, 100% de grãos não processados, brócolis, verduras e abóboras (15). -ver infográfico anexado. Os vegetais de folhas verdes são ricos em fibras, nutrientes densos, pobres em calorias, ricos em magnésio e contêm grandes quantidades de água e devem ser consumidos diariamente para evitar a constipação (15). O kiwi verde aumenta a frequência e facilita as evacuações, o volume de fezes e a maciez (14). O kiwi é rico em fibras e enzimas que estimulam a motilidade gastrointestinal superior, além de peptídeos e fitoquímicos com efeitos biológicos (14). As ameixas são ricas em fibras e polifenóis que aumentam o efeito laxante. As ameixas japonesas aumentam a frequência das fezes e os movimentos intestinais em ratos (16). Figos frescos são uma ótima fonte de fibras.
Os figos apresentam um equilíbrio quase perfeito entre as fibras solúveis e insolúveis e estão associados à menor pressão arterial e proteção contra a degeneração macular (14). Caquis e bananas, devido à sua alta quantidade de taninos, podem inibir os movimentos intestinais e reduzir a atividade enzimática do intestino delgado e devem ser evitados em crianças com constipação (17, 18). Os pais precisam encorajar seus filhos a ingerir uma dieta rica em antioxidantes e rica em fibras para reduzir o estresse oxidativo e a inflamação e garantir ótima digestão, evacuação intestinal e saúde intestinal (10). Uma criança com má digestão e motilidade intestinal prejudicada, não vai absorver os nutrientes dos suplementos e dos alimentos. Estabelecer uma dieta saudável rica em água limpa e alimentos ricos em fibras, como frutas e vegetais crus, feijões, nozes, grãos e sementes é um passo crucial para otimizar a saúde de seu filho.
Referências: 1 Holmes G. Gastrointestinal disorders in Down syndrome. Gastroenterol Hepatol Bed Bench. 2014;7(1):6–8.
2 Pagano G, Castello G. Oxidative stress and mitochondrial dysfunction in Down syndrome. Adv Exp Med Biol. 2012;724:291-9.
3 Rose S, Bennuri SC, Murray KF, Buie T, Winter H, Frye RE. Mitochondrial dysfunction in the gastrointestinal mucosa of children with autism: A blinded case-control study. PLoS One. 2017;12(10):e0186377. Published 2017 Oct 13. doi:10.1371/journal.pone.0186377
4 Chapman TP, Hadley G, Fratter C, Cullen SN, Bax BE, Bain MD, Sapsford RA, Poulton J, Travis SP. Unexplained gastrointestinal symptoms: think mitochondrial disease. Dig Liver Dis. 2014 Jan;46(1):1-8.
5 Parisotto EB, Giaretta AG, Zamoner A, Moreira EA, Fröde TS, Pedrosa RC, Filho DW. Persistence of the benefit of an antioxidant therapy in children and teenagers with Down syndrome. Res Dev Disabil. 2015 Oct-Nov;45-46:14-20.
6 Gelb M. J. (2001) Targeted Nutritional Intervention for Children with Down Syndrome, Padiat. Prax. 59: 703 – 708
7 Meguid N.A., Ismail S. (2002) Early intervention in down syndrome: The effect of antioxidants.
8 Ungvari Z, Sonntag WE, de Cabo R, Baur JA, Csiszar A. Mitochondrial protection by resveratrol. Exerc Sport Sci Rev. 2011;39(3):128–132. doi:10.1097/JES.0b013e3182141f80
9 Lara Gibellini, Elena Bianchini, Sara De Biasi, Milena Nasi, Andrea Cossarizza, and Marcello Pinti, “Natural Compounds Modulating Mitochondrial Functions,” Evidence-Based Complementary and Alternative Medicine, vol. 2015, Article ID 527209, 13 pages, 2015.
10 Mazurek D, Wyka J. Down syndrome–genetic and nutritional aspects of accompanying disorders. Rocz Panstw Zakl Hig. 2015;66(3):189-94.
11 Pontzer H, Wood B.M., Raichlen D.A., Hunter‐gatherers as models in public health. Wiley Online Library, 03 December 2018
12 Bae SH. Diets for constipation. Pediatr Gastroenterol Hepatol Nutr. 2014;17(4):203–208. doi:10.5223/pghn.2014.17.4.203
13 Tabbers M.M., Benninga M.A., Constipation in children: fibre and probiotics, BMJ Clin Evid. 2015; 2015: 0303.Published online 2015 Mar 10.
14 Crowley ET, Williams LT, Roberts TK, Dunstan RH, Jones PD. Does milk cause constipation? A crossover dietary trial. Nutrients. 2013;5:253–266.
15 https://draxe.com/high-fiber-foods/
16 Na JR, Oh KN, Park SU, Bae D, Choi EJ, Jung MA, et al. The laxative effects of Maesil (Prunus mume Siebold & Zucc.) on constipation induced by a low-fibre diet in a rat model. Int J Food Sci Nutr. 2013;64:333–345.
17 Bubba MD, Giordani E, Pippucci L, Cincinelli A, Checchini L, Galvan P. Changes in tannins, ascorbic acid and sugar content in astringent persimmons during on-tree growth and ripening and in response to different postharvest treatments. J Food Compos Anal. 2009;22:668–677
18 Shiga TM, Soares CA, Nascimento JR, Purgatto E, Lajolo FM, Cordenunsi BR. Ripening-associated changes in the amounts of starch and non-starch polysaccharides and their contributions to fruit softening in three banana cultivars. J Sci Food Agric. 2011;91:1511–1516
19 Daher R, Yazbeck T, Jaoude JB, Abboud B. Consequences of dysthyroidism on the digestive tract and viscera. World J Gastroenterol. 2009;15(23):2834–2838.
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